Teoricamente,
planos de governo devem guiar o crescimento da cidade, mas há anos
candidatos deixaram as diretrizes de lado (Foto: Arquivo/João Garrigó)
Principal arma contra as promessas eleitoreiras, o plano
de governo - vital no passado para os projetos políticos - vem caindo no
esquecimento. Com as propostas relegadas a meras cartas de intenções ou
raquíticos planos de metas genéricas, o eleitor se vê preso a um voo
cego.
“A quase totalidade dos municípios brasileiros tem problemas graves
na Educação, Saúde, Transportes e Segurança, só para ficar nos quatro
mais gritantes. E não explicar como vai enfrentá-los é fazer pouco da
inteligência dos cidadãos. Fuja desse tipo de candidato e jogue no lixo a
tal de ‘Carta de Intenção’ que é a mesma coisa que nada”, afirma o
analista político Eron Brum.
Ele enfatiza que um documento informado o que se pretende fazer e a
forma como será feito é o antídoto para promessas mirabolantes. “Se o
candidato não demonstra conhecer os problemas da cidade que pretende
administrar é sinal de incompetência ou má fé. O eleitor deve
desconfiar”, orienta.
Em Campo Grande, com seus mais de 786 mil habitantes, 74 bairros e
800 parcelamentos, a elaboração de um plano de governo consome, no
mínimo, três meses. A estimativa parte do professor de Administração da
UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Dario de Oliveira
Lima Filho. “Um plano estratégico de governo precisa de metodologias,
definição de políticas públicas”, exemplifica.
O diagnóstico da cidade requer, ao menos, uma equipe com dez pessoas.
Incluindo administrador, economista, engenheiro, arquiteto, sociólogo,
educadores.
Para Dario, o excesso de partidos e as alianças de última hora
contribuíram para que o plano de governo caísse em desuso. Outro fator
preponderante é o loteamento dos órgãos administrativos entre os
aliados. Ou seja, como se monta um plano para a Educação, por exemplo,
se a secretaria for exigida por um aliado de última hora.
Analista político Erom Brum. (Foto: Arquivo)
“No passado, se fazia mais plano de governo em função de poucos
partidos políticos, em função da baixa mudança de vertente partidária e
alianças de última hora”, salienta.
Candidato por quê? – Com 30 anos de experiência na
elaboração de plano de governo, o arquiteto e urbanista Ângelo Arruda
afirma que o documento é a forma do “prefeitável” deixar claro o que
pretende ao se lançar candidato. “A primeira tarefa é conhecer a cidade.
Mas tem que ter olhos para a cidade inteira”.
No passado, o levantamento começava com um ano de antecedência. Sem
internet ou dados consolidados, a equipe tinha que ir de porta em
porta. “Hoje, acredito que 120 dias é um bom prazo para montar um plano
de governo”, afirma Ângelo. Ele frisa que no setor de arquitetura e
urbanismo o trabalho é imenso. “Tem que saber onde vão ser construídos
os equipamentos de Saúde, de Educação”.
Secretário de Planejamento no governo de Pedro Pedrossian, o
economista Wagner Bertoli, afirma que, em caso de vitória, o plano de
governo passa por ajustes para caber no orçamento do Poder Público. “É
como a vida da gente, você sabe das suas necessidades, mas precisa ver o
dinheiro que tem. Dessa forma, algumas coisas já são de imediato,
outras ficam para o fim do governo”.
Ao registrar a candidatura, a Justiça Eleitoral exige que sejam
entregues as propostas defendidas pelos candidatos a prefeito. O
documento deve ter uma via impressa e outra digitalizada.